Comunidade de baixa renda prova que iniciativas sustentáveis são para todos os bolsos.
Por Ana Carolina Amaral*
O último teste comprovou limpeza de 98,9% na água que sai do tratamento de esgoto da Emaús, em Ubatuba – SP. A comunidade nasceu em 1990 para atender dez famílias carentes da cidade, por iniciativa do ex-menino de rua Jorge Oliveira, hoje com 55 anos. Sem apoio do governo municipal para implantação da rede de saneamento básico, hoje a Emaús prova que sustentabilidade pode ser uma solução cultural, social e econômica.
"A comunidade cresceu já no primeiro ano e as fossas sépticas não deram conta, virou um esgoto a céu aberto", conta Jorge. Como o governo não se interessou em mudar a situação de uma comunidade sem carteira de identidade ou título de eleitor, Jorge procurou o contato do prof. Dr. Enéas Salati, pesquisador das wetlands construídas – sobre o projeto, Jorge havia lido numa revista.
Wetlands construídas são tanques que imitam as wetlands naturais, áreas inundadas onde plantas aproveitam nutrientes dissolvidos e modificam a qualidade da água. Salati criou diversas modalidades para o tratamento de esgoto e, como teste, aceitou doar o projeto para Emaús.
O esgoto gerado pelas 27 famílias, cerca de 150 pessoas, é tratado em uma estação com dois tanques e uma caixa de passagem (depósito do esgoto). Primeiramente o esgoto passa por um cano com furos em meio de um solo filtrante (terra preparada com brita dos tipos 1, 2 e 3). Só essa etapa já separa 30% das impurezas, segundo o professor Salati. Os resíduos seguem para tanques com plantas aquáticas, como os aguapés. O último tanque abriga tilápias, que evitam larvas de mosquito como a Dengue e provam a limpeza eficiente da água.
Há 14 anos, são 600 m2 que a comunidade usa para saneamento, criação de peixes, produção de esterco e de adubo. As podas do aguapé vão para uma composteira, virar adubo das hortas e pomares. As folhas do mesmo aguapé são aproveitadas em todo o esterco produzido para as criações de porco e galinha.
"Não somos miseráveis, temos que enfrentar o dia-a-dia e buscar nossa liberdade". É assim que Jorge incentiva a comunidade carente a não esperar assistências e se aproximar do conceito de auto-sustentabilidade. Para o biólogo do Instituto Socioambiental (ISA), Cesinha Pegoraro, "a Emaús é um excelente exemplo de que a sustentabilidade ambiental é economicamente viável e também ajuda problemas sociais."
Voluntário em articulações de projetos da Emaús, Rui Alves Grilo acredita no sucesso do tratamento local de esgoto como solução para o saneamento da cidade. Ele alega que a SABESP não acompanhou o crescimento de Ubatuba, onde a ocupação irregular de terrenos e o desrespeito às características naturais do solo dificultam o planejamento e a infra-estrutura. "A Emaús é uma comunidade carente cuja organização serve de exemplo para os planos da cidade", conclui Grilo.
Já o ex secretário de Arquitetura e Urbanismo de Ubatuba, Ary Jardim de Azevedo, acredita que o saneamento de Ubatuba é um problema complexo, que vai além da ocupação irregular e do turismo. "Nossa cidade apresenta áreas muito baixas, em que o esgoto deveria ser bombeado, enquanto outras regiões tem seu lençol freático muito próximo à superfície. Precisamos de um trabalho delicado", argumenta Azevedo. Ele também aposta na iniciativa da Emaús como um caminho para a solução. Excluídos de uma urbanização caótica, essas famílias mostram o caminho social, econômico, cultural – e urgente - da sustentabilidade.
"A comunidade cresceu já no primeiro ano e as fossas sépticas não deram conta, virou um esgoto a céu aberto", conta Jorge. Como o governo não se interessou em mudar a situação de uma comunidade sem carteira de identidade ou título de eleitor, Jorge procurou o contato do prof. Dr. Enéas Salati, pesquisador das wetlands construídas – sobre o projeto, Jorge havia lido numa revista.
Wetlands construídas são tanques que imitam as wetlands naturais, áreas inundadas onde plantas aproveitam nutrientes dissolvidos e modificam a qualidade da água. Salati criou diversas modalidades para o tratamento de esgoto e, como teste, aceitou doar o projeto para Emaús.
O esgoto gerado pelas 27 famílias, cerca de 150 pessoas, é tratado em uma estação com dois tanques e uma caixa de passagem (depósito do esgoto). Primeiramente o esgoto passa por um cano com furos em meio de um solo filtrante (terra preparada com brita dos tipos 1, 2 e 3). Só essa etapa já separa 30% das impurezas, segundo o professor Salati. Os resíduos seguem para tanques com plantas aquáticas, como os aguapés. O último tanque abriga tilápias, que evitam larvas de mosquito como a Dengue e provam a limpeza eficiente da água.
Há 14 anos, são 600 m2 que a comunidade usa para saneamento, criação de peixes, produção de esterco e de adubo. As podas do aguapé vão para uma composteira, virar adubo das hortas e pomares. As folhas do mesmo aguapé são aproveitadas em todo o esterco produzido para as criações de porco e galinha.
"Não somos miseráveis, temos que enfrentar o dia-a-dia e buscar nossa liberdade". É assim que Jorge incentiva a comunidade carente a não esperar assistências e se aproximar do conceito de auto-sustentabilidade. Para o biólogo do Instituto Socioambiental (ISA), Cesinha Pegoraro, "a Emaús é um excelente exemplo de que a sustentabilidade ambiental é economicamente viável e também ajuda problemas sociais."
Voluntário em articulações de projetos da Emaús, Rui Alves Grilo acredita no sucesso do tratamento local de esgoto como solução para o saneamento da cidade. Ele alega que a SABESP não acompanhou o crescimento de Ubatuba, onde a ocupação irregular de terrenos e o desrespeito às características naturais do solo dificultam o planejamento e a infra-estrutura. "A Emaús é uma comunidade carente cuja organização serve de exemplo para os planos da cidade", conclui Grilo.
Já o ex secretário de Arquitetura e Urbanismo de Ubatuba, Ary Jardim de Azevedo, acredita que o saneamento de Ubatuba é um problema complexo, que vai além da ocupação irregular e do turismo. "Nossa cidade apresenta áreas muito baixas, em que o esgoto deveria ser bombeado, enquanto outras regiões tem seu lençol freático muito próximo à superfície. Precisamos de um trabalho delicado", argumenta Azevedo. Ele também aposta na iniciativa da Emaús como um caminho para a solução. Excluídos de uma urbanização caótica, essas famílias mostram o caminho social, econômico, cultural – e urgente - da sustentabilidade.
* Ana Carolina Amaral cursa o 3º ano de Jornalismo na Universidade Estadual Paulista UNESP e é voluntária em movimentos ambientais desde 2000.
(Envolverde/O autor)
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